VIU ESTA CRIANÇA?
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Decerto que não.
Chama-se Gedhun Choekyi Nyima, é filho de Kunchok Phuntsok e de Dechen Choedon, nasceu no Tibete a 25 de Abril de 1989. Desapareceu, com os seus pais, a 17 de Maio de 1995 quando tinha seis anos. Desde então tem sido incansavelmente procurado; foram várias as organizações internacionais que intervieram junto da administração chinesa para tentar localizar este menino. O Comité para os Direitos da Criança das Nações Unidas conseguiu obter do embaixador da China nas N.U. o reconhecimento de que a criança se encontrava sob a "protecção do governo chinês, a pedido dos seus pais"(1996). Dois anos mais tarde Mary Robinson, Alta Comissária para os Direitos Humanos das N.U., viajou ao Tibete e à China mas todos os acessos e respostas que pretendeu foram-lhe negados pelas autoridades chinesas que, até agora, se remeteram a um absoluto silêncio sobre o assunto.
Mas quem é este menino e por que despertou a atenção e o interesse da China?Em 1959, quando o 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, deixou o Tibete e se exilou na Índia, Chökyi Gyaltsen, 10º Panchen Lama do Tibete então com 21 anos, decidiu permanecer. Trata-se da segunda figura na hierarquia religiosa tibetana cuja reencarnação tem de ser reconhecida pelo Dalai Lama.
Nos anos 60 presenciou as perseguições religiosas, a fome severa, sofrimento e morte do povo tibetano. Publicou então um relatório, conhecido como "the '70,000 Character Petition". A petição ( que permaneceu secreta durante 34 anos) foi analisada e discutida pelos liders chineses mas pouco depois deram-se novos confrontos e perseguições, um endurecimento da metodologia política que se estendeu por quatro anos. Em 1967 foi formalmente preso e deportado para Beijing durante 9 anos e 8 meses e, seguidamente, colocado em prisão domiciliária por mais 14 anos, também em Beijing. Em 1982 foi-lhe, finalmente, permitido regressar ao Tibete. Durante os quatro anos que se seguiram fez da "Causa Tibetana", da manutenção da religião, língua, cultura e tradições do Tibete a sua missão na Terra. A 23 de Janeiro de 1989, durante o maior "festival religioso", e encontro político, desde 1959, proferiu um extraordinário discurso, perante 30.000 tibetanos, no qual apelou à participação do Dalai Lama na vida do Tibete. Morreu cinco dias depois, a 28 de Janeiro de 1989, após uma súbita e curta doença, a poucos dias de completar... 51 anos.
Mas voltando ao menino desaparecido...
Gedhun Choekyi Nyima nasceu três mêses e três dias após a morte do 10º Panchen Lama do Tibete, Chökyi Gyaltsen (1989); por essa época tinha-se dado início à busca, liderada pelo abade do mosteiro de Tashilhunpo, Chadrel Rinpoche, do 11º Panchen Lama - ou seja, buscava-se a criança em quem o Panchen Lama teria reencarnado.
Abreviando...
Esta busca foi morosa, o processo é altamente complicado envolvendo a consulta de vários oráculos e a coincidência destes com datas auspiciosas. O reconhecimento da reencarnação de um Panchen Lama tem de ser feito pelo Dalai Lama. (O processo encontra-se descrito e disponivel "on -line")
Só a 15 de Maio de 1995, em Dharamsala, após a análise de uma longa lista de candidatos, Gedhun Choekyi Nyima, então com seis anos de idade, foi reconhecido pelo actual Dalai Lama como Sua Santidade o 11º Panchen Lama do Tibete.
Logo após o anúncio de reconhecimento feito por Sua Santidade o 14º Dalai Lama a partir da India, Gedhun Choekyi Nyima e os seus pais foram "conduzidos sob escolta" a Beijing não voltando a ser vistos nem a ser dada conta do seu paradeiro.
Muitos mandatos de prisão foram emitidos para Lhasa, entre os quais o dirigido a Chadrel Rinpoche que permaneceu preso durante seis anos, sob a acusação de "venda de segredos de Estado". Foi libertado em 2002 encontrando-se presentemente em Lhasa sob prisão domiciliária.
E depois... O impensável!
Em Novembro de 1995, seis meses após o desaparecimento do recém-reconhecido 11º Panchen Lama, o governo chinês apresentou outra criança, Gyaltsen Norbu, "reconhecendo-o" como 11º Panchen Lama do Tibete.
Este menino, nascido na mesma região tibetana que Gedhun Choekyi Nyima, foi educado fora do mosteiro de Tashilhunpo, residência oficial do Panchen Lama.
Após a sua designação, em 1995, foi pela primeira vez ao Tibete em Junho de 1999 a fim de conduzir uma cerimónia religiosa e "baptizar" diversos Lamas e discípulos. Tinha, à época, nove anos de idade e proferiu então um pequeno discurso do qual fica um esclarecedor excerto, sem qualquer tradução para além daquela que foi publicada pela BBC:
"All the lamas of Zhaxi Lhunbo (Tashilhunpo) Lamasery, including myself, and the believers, should love the Communist Party of China, love our socialist motherland and love the religion we believe in"
Terminada a visita este novo Lama voltou para Beijing onde será educado por monges tibetanos, à guarda do governo chinês.
Mas porque é o controlo de um Panchen Lama, ainda criança, tão importante para uma super-potência como a China?
Como ficou dito anteriormente, a declaração um Panchen Lama depende do reconhecimento, por parte do Dalai Lama, da autenticidade da sua reencarnação; daqui se estabelece a intervenção da autoridade directa do Dalai Lama na vida religiosa, e não só, do Tibete, na escolha da segunda figura da hierarquia religiosa, primeira na Sua ausência.
Mas vamos mais longe.
Também o reconhecimento da autenticidade da reencarnação de um Dalai Lama, e o intricado processo que lhe é subjacente, depende da declaração de reconhecimento por parte do Panchen Lama; Quem controla o Panchen Lama decide quem será o 15º Dalai Lama. Simples!
Aliás...
Foi há menos de um ano (Agosto 2007) que a administração chinesa fez saber que a partir de Setembro 2007, passa a ser proibido aos Lamas budistas reencarnarem sem autorização do governo (Notável, para um regime ateu ?!?!?!)
A esta lei respondeu o Sua Santidade o 14º Dalai Lama Tenzin Gyatso que reencarnará fora do domínio administrativo chinês, ainda que isto implique renascer fora do Tibete ocupado.